arte pública

encontrar frestas

Há duas semanas, ocorreu o Simpósio Internacional de Arte y Estética, promovido pela Faculdade de Belas Artes da Universidad del Atlantico.

Houve uma mesa sobre Arte, Anti-monumento e aspectos do direito à cidade, da participei juntamente com a artista e curadora Anna Emma e o professor de Filosofia e Estética da Arte Jordi Claramonte, com a mediação da professora Isabel Cristina Ramirez.

Levamos a pesquisa sobre as ações artísticas nos espaços públicos do Rio de Janeiro como uma prática urbana e como uma Arte Pública, conforme a redefinição do termo pelos artistas de rua, em especial, por Amir Haddad.

A situação política brasileira e o incêndio do Museu Nacional foram temas questionados pela mediadora e parecia conflitante falar das ações artísticas tão potentes que tivemos nos espaços públicos do Rio de Janeiro em meio a uma catástrofe cultural e ao movimento reacionário de extrema direita que venceu as eleições presidenciais e para governador do Estado do Rio.

A polarização política que tivemos propagou medos e comportamentos extremistas não só pela direita, mas por todos os lados, tanto por quem se sente por cima quanto por quem está por baixo.

O resultado foi uma cegueira generalizada, uma névoa densa da qual é difícil se afastar e ter alguma perspectiva. Talvez seja necessário mergulhar nesta cegueira, tal como fizemos na oficina que realizamos em Barranquilla. Com a intenção de sensibilizar o corpo e perceber o espaço através dos sentidos, propusemos que os estudantes de Belas Artes caminhassem em duplas pelo espaço, de maneira que um conduzisse o outro, que estaria sem ver, pelo espaço, propondo diferentes sensações pelo tato, pelo olfato e pela escuta.

Os relatos desta sensibilização pela cegueira revelaram lindas percepções não só do espaço, mas também da experiência de confiar no outro.

Como é se deixar ver através dos olhos do outro? Como confiar no outro sem medo, quando não conseguimos enxergar? Se entregar ao outro significa perder seu próprio equilíbrio, ou significa ganhar um novo equilíbrio?

Em meio a tantas incertezas, temos que apreciar o que existe, perceber o que o corpo sente e encontrar uma fresta para tentar se encaixar ali e abrir espaço.

Seguiremos encontrando frestas e abrindo espaços.

Foto de capa: Elyluz Shaik Larranz

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caminhando

Euforias pré-carnavalescas podem levar a baixas de ânimo nos dias que se seguem. Não vivi nenhuma maratona de blocos, mas a semana começou com uma sensação de desgaste, como se faltasse energia para seguir caminhando.

Nada de excepcional aconteceu. Tudo está bem e vai continuar bem, ainda que, na cidade, dores sejam expressadas todos os dias.

Mas há um cansaço. Cansaço de ter que estar bem, de racionalizar o que se sente, de ter que cuidar tanto com o que se diz que a intensidade diminui e o animo também.

É certo cuidar do outro, com o que se diz ao outro, mas cansa. Cansa porque no final permanecemos só, com nós mesmos, e é esse nós que precisa de máximo cuidado. Depois de tanto cuidado com o outro, o que sobra, muitas vezes, é o cansaço.

Mas o baile segue, a semana segue, o bloco segue. Há dias, porém, que não seguimos. Permanecemos. Para retomar as forças e voltar a caminhar, cuidando para que as pedras no caminho não esfolem nossos corações e mentes.

Seguiremos como @felipearco e caminharemos sobre as mágoas.

Obrigada pela inspiração.

Encontrando Felipe Arco pelo caminho...

Façamos nós.

O período que estive no Rio de Janeiro foi de aprendizagem e de conexão, conexão com a cidade, com as pessoas e com meus interesses e a minha expressão.

Nesta semana, David Harvey esteve no Rio de Janeiro no evento Cidades Rebeldes e Espaços de Esperança, onde participou de três rodas de discussão.

Ele defende que a cidade não é mais desenvolvida para o bem-estar das pessoas e sim para o fluxo de capital.

Ele vê os movimentos sociais e culturais como forma de resistência a este processo e como alternativa a esta cidade que é construída apenas para uma pequena parte da população, que funciona sob um forte sistema de controle e repressão.

Esse pensamento estimula meus estudos e minhas ações na cidade.

No último domingo, o coletivo QuatroNós foi pra rua, ganhou vida e se apresentou num ensaio aberto no Aterro do Flamengo.

Sonhos individuais que se juntam numa realização coletiva.

QuatroNós quer desatar amarras, conectando as pessoas e a cidade.

Façamos laços, façamos nós.

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The period I was in Rio de Janeiro was a learning and a connection process, a connection with the city, with people and with my interests and my expression.

This week, David Harvey was in Rio de Janeiro in the event Rebel Cities and Hope Spaces, where he participated in three discussions.

He argues that the city is not designed for people welfare but to the flow of capital.

He sees social and cultural movements as a form of resistance to this process and as an alternative to this city that is built for only a small part of the population and that operates under a strong system of control and repression.

This thought stimulates my studies and my actions in the city.

Last Sunday, the collective QuatroNós had gone on the street, had came to life and performed an open rehearsal in Flamengo.

Individual dreams that come together in a collective achievement.

QuatroNós want to untie ties, connecting people and the city.
Making connections.

 

ocupando espaços, facçamos laços…

 

façamos nós…